Trocar palácios por cavernas

O homem que trocou os palácios sauditas pelas caverna afegãs Apesar de sua cabeça já valer 25 milhões de dólares, oferecidos pelo governo americano, Osama bin Laden pode ter escapado uma vez mais.O líder da Al Qaeda, nascido há 44 anos na capital saudita, parecia destinado a seguir os passos de seu pai, um magnata que enriqueceu com as obras públicas, mas a "jihad" (guerra santa) cruzou em seu caminho.Agora vende sua imagem de reencarnação do profeta Maomé, com uma barba comprida e subindo no lombo de um cavalo branco, tal e como o Islã popular imagina seu Profeta, e essa é a fotografia que se vende, impressa em pôsters ou camisetas, nos mercadinhos da Indonésia ou do Paquistão, com os dizeres: "Osama, o grande herói do Islã".Um Islã que nos últimos anos Osama interpretou de maneira obsessiva: uma guerra contra "o símbolo moderno do paganismo mundial, os Estados Unidos", segundo suas palavras."Todo muçulmano que esteja em condições de fazê-lo tem o dever individual de matar os americanos e seus aliados, civis e militares, em qualquer país onde seja possível", dizia a fatwa (sentença) assinada em 1998 por Bin Laden e seus principais aliados na jihad.Mas Bin Laden nunca foi um sábio muçulmano, nem um teólogo, por isso dificilmente pode lançar "fatwas", embora o faça. De fato, aqueles que o conhecem enfatizam que ele não tem idéias muito elaboradas, e sempre necessitou de mentores que exerceram grande influência sobre ele.Se nos anos oitenta foi o palestino Abdala Azam que, nos campos de refugiados afegãos de Peshawar (Paquistão), converteu o milionário saudita em um adepto do wahabismo, o ramo mais rigoroso do Islã, agora é o egípcio Ayman al Zawahri que parece estar por trás das decisões de Bin Laden.No entanto, há algo em que Bin Laden superou todos: em seu manejo dos meios de comunicação e da imagem.Não só por sua subliminar identificação com Maomé -exilado de Meca, para onde voltou triunfante, como ele se exilou de seu próprio país-, mas também por seu sentido da oportunidade em suas poucas aparições na mídia.Foi no dia 7 de outubro, justamente depois que começaram os bombardeios contra o Afeganistão, que Bin Laden apareceu pela primera vez na rede "Al Jazira", a cadeia de TV catariana por satélite muito vista no mundo árabe, para jurar que os EUA não teriam descanso enquanto não houvesse justiça para a Palestina e não retirassems suas tropas da Arábia Saudita.A escolha da Al Jazira, a evocação do problema palestino, tão presente entre os árabes, e as imprecisas alusões aos atentados contra as Torres Gêmeas e o Pentágono tinham um objetivo preciso: propagar sua imagem de justiceiro, um moderno David contra o Golias americano.Tanto nesta como nas demais aparições públicas -muito poucas-, Bin Laden utiliza sempre um tom pausado, sem estridências, longe da imagem do fundamentalista fanático, um tom não totalmente isento de magnetismo pessoal.Os que tiveram contato com Osama no campo de batalha falam de um homem talvez não brilhante, mas muito arrojado no combate, o que lhe valeu um grande prestígio entre os estrangeiros que combatiam em solo afegão.No entanto, em sua Arábia Saudita natal sua imagem é repudiada nos círculos oficiais, desde que no início dos anos 90 confronotu pessoalmente o rei Fahd por permitir o estabelecimento de tropas americanos no país.O homem que dividiu os bancos escolares com vários príncipes sauditas, que em seus vinte anos chegou a participar de luxuosas viagens e festas com a juventude dourada de seu país, rompeu totalmente com sua pátria em 1994, quando perdeu sua nacionalidade.Osama bin Laden, como outros muitos árabes fanáticos, acabaram mordendo a mão de que os alimentou e escolheram as ásperas terras afegãs e os rudes talibãs como seu ideal de vida islâmica."Um dia no (conflito do) Afeganistão conta mais que mil dias de oração em uma mesquita", disse em uma ocasião.Contam que na cidade de Kandahar, Bin Laden vivia -com suas quatro esposas árabes e seus muitos filhos- em uma mansão de grande luxo comparada com a miséria que o cercava.Osama bin Laden também teve que refugiar-se antes dos soviéticos e agora dos americanos nas escuras cavernas de Tora Bora ou de Kandahar. Ali escolheu viver e, talvez, morrer.

Pravda.Ru

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